O
Pega
* Este conto participou do concurso
Correntes d´Escritas.
Era uma manhã de sábado. Numa
oficina mecânica um homem fazia ajustes no motor de um carro. Um pouco atrás
dele, um jovem acompanhava de perto seu trabalho atentamente. O jovem era
Everton. O mesmo acabara de completar 18 anos e havia ganhado de presente do
pai o envenenamento do seu carro.
- O que faz o óxido
nitroso aumentar a potência do carro? – perguntou Everton enquanto acompanhava
com os olhos o trabalho do mecânico.
Gabriel – este era o seu
nome – enquanto fazia alguns ajustes finais, respondeu:
- Everton, para você
entender como funciona um carro envenenado, você tem que compreender como funciona
um motor comum. Gabriel trabalhava e conversava ao mesmo tempo, no que
continuou:
“O motor de praticamente
todos os carros funciona em ciclos de quatro etapas. Na primeira delas, o
pistão do cilindro desce, aspirando ar e gasolina pela válvula de admissão para
dentro da câmara de combustão. É por causa disso que chamamos os motores
convencionais de aspirados. Na segunda etapa do ciclo, a válvula é fechada e o
pistão sobe, comprimindo a mistura de gases contida no cilindro. Quando a
pressão na câmara chega ao máximo, a vela solta uma fagulha, detonando a reação
de combustão entre o oxigênio do ar e o vapor de gasolina”. O mecânico pareceu
coordenar os pensamentos, no que prosseguiu sua explicação, enquanto Everton
ouvia atentamente:
- A reação entre o
oxigênio e a gasolina é explosiva: a energia e o volume de gases liberados
empurram o pistão para baixo, girando o virabrequim e o eixo do motor. A
energia dessa explosão é que faz o carro se mover. Antes que esse ciclo
recomece, a válvula de escape se abre para a saída dos produtos da combustão. A
potência do motor é proporcional à soma da energia liberada pela explosão em
cada cilindro. Nos carros não tunados, dá para aumentar a potência quando se
amplia o número de cilindros ou o volume deles, para multiplicar a energia da
combustão”.
- E qual a diferença para
o sistema com nitro? – indagou Everton interessado.
- O nitro literalmente dá
um gás ao motor: ele aumenta a quantidade de oxigênio que entra nos cilindros.
É como se, por alguns segundos, ele expandisse o volume de um motor de 1,0
litro para 1,4 litro, por exemplo. Mas, na verdade, não são os cilindros que
crescem, e sim os gases que ocupam menos espaço lá dentro. Isso acontece por
causa de uma propriedade química do óxido nitroso - nome do gás usado nos
sistemas nitro - quando sai da forma líquida para a gasosa, ele absorve calor
do ambiente. Como gases frios ocupam menos espaço que os quentes, mais
ingredientes da combustão cabem ao mesmo tempo no cilindro. Gabriel explicava
isto notando o grande interesse de Everton pelo assunto. Então ele fechou o
capô do carro e concluiu:
- De quebra, ao vaporizar-se,
o nitro se decompõe em gás nitrogênio e oxigênio, e este último aumenta ainda
mais a força da explosão na câmara de combustão.
- Rapaz! – exclamou
Everton – você me deu uma aula.
Gabriel sorriu, fazendo
uma observação:
- Lembre-se que o sistema
nitro só funciona de forma eficiente quando o carro está próximo de sua
velocidade máxima e deve ser usado com moderação, ou seja, fora da cidade ou em
pistas com longas retas.
- Obrigado pelo aviso –
agradeceu Everton – aonde eu pago?
- Pode se dirigir ao
caixa – disse apontando para uma moça que se encontrava sentada em uma mesa –
juízo com isso garoto! – disse ele despedindo-se.
Everton então se dirigiu
até a moça indicada, retirou um maço de dinheiro de um dos bolsos, depois que a
caixa lhe disse quanto era, entregando-o quase todo para a funcionária da
oficina. Depois de ter pago adentrou o veículo, cujas chaves se encontravam na
ignição, indo embora do local.
Pelo caminho ele pensava
com ansiedade que de tarde haveria um pega e ele teria oportunidade de testar a
inovação do carro. Se pôs então em direção a casa da namorada.
Everton era o filho mais
velho de um casal de irmãos. Por ser o filho mais velho – e também por ser
homem – sempre teve várias regalias em relação à irmã. Aprendera a dirigir ainda
cedo, quando tinha apenas 14 anos. Seu pai era funcionário do tribunal de
justiça da cidade e se orgulhava de ter um filho homem, achando que ele merecia
ter tudo que ele pudesse lhe proporcionar. Desta maneira Gabriel e a irmã –
quatro anos mais nova que ele – tiveram todos os brinquedos que desejaram;
roupas de grife; estudaram nas melhores escolas. A mãe – que era professora de
piano – às vezes censurava o marido por satisfazer todos os desejos dos filhos,
principalmente de Everton, mas o marido não ligava para essas admoestações,
achando que proporcionar coisas materiais aos filhos era uma maneira de
justificar aos olhos do mundo que ele era um bom pai.
Desde que aprendera a
dirigir, Everton havia se apaixonado por carros. E podia satisfazer essa paixão
dirigindo os carros que o pai trocava sempre que podia. Com o tempo, mostrara grande
desenvoltura no volante, e por isso, sempre que ia sair com o pai, era ele quem
dirigia.
Quando completou 17 anos
– já que era um estudante aplicado – o pai lhe presenteara com seu primeiro
veículo. Mesmo não tendo carteira, Everton utilizava o carro para ir à escola e
depois à faculdade; passear com a irmã e sair aos finais de semana.
Entretanto, influenciado
por outros colegas que também tinham carros, Everton passara a disputar pegas.
Ele sabia que estava fazendo uma coisa ilegal e perigosa, já que iniciara essa
prática ainda quando não tinha carteira, mas a emoção de correr, a adrenalina e
as garotas que conseguia se exibindo desta maneira, o tinham tornado um piloto
respeitado entre outros tiradores de pega.
Num desses pegas, uma
garota chamada Mariana havia lhe pedido para ir com ele no carro na hora da
corrida. Mariana era uma garota alta, seios e quadris fartos, cujo semblante
denotava uma grande vontade de viver as emoções da vida. Para sua surpresa,
durante o pega, Mariana – que tinha 18 anos – enrolara um cigarro de maconha a
fim de curtir aqueles momentos de emoção. Diante da beleza da moça, Everton não
falara nada, embora drogas era uma coisa que ele jamais pensou em experimentar.
Nesse dia ele venceu o pega e Mariana lhe presenteara a vitória com um beijo na
boca. Rapidamente, começaram a namorar, iniciando uma vida sexual. Os dois descobriram que havia uma forte química entre eles e Everton
se sentia muito feliz de ter encontrado aquela garota. Apenas uma coisa o
incomodava: o fato da namorada ser usuária de maconha. Ele fingia não ligar
para o hábito ruim da namorada, mas com medo dela achá-lo careta ou se
desinteressar por ele, passara a consumir maconha com ela.
Depois de uns seis meses
de consumo, Everton já se reconhecia um dependente, como Mariana. Apesar de ter
passado no vestibular de engenharia elétrica e ela no de psicologia, o rapaz
notava que seu desempenho intelectual havia caído, quando estava sem a droga
muitas vezes se sentia triste, desanimado. Mas bastava fumar maconha de novo,
para sentir aquela euforia, fazer aquelas viagens e esquecer todas as
preocupações. Ele e Mariana passaram a consumir maconha todos os dias à noite.
Voltando a observar
Everton no interior de seu carro, vamos vê-lo estacionar diante de uma casa de
aspecto agradável, num bairro no subúrbio da cidade. Era a casa dos pais de
Mariana. Quando lá chegou, desligou o carro e ficou pensando alguns minutos.
Sua hesitação decorria do
fato de sentir que a mãe da namorada não gostava dele. Everton era um rapaz comum
e as únicas duas coisas que podiam ser censuradas na sua conduta era o fato de
disputar pegas e fumar maconha.
A mãe de Mariana – dona
Pâmela como ele a chamava – nunca gostara de Everton desde que o vira pela
primeira vez. No dia daquele encontro, a matrona havia sentido um desconforto
interior, uma repulsa do rapaz que a filha lhe apresentava. Além disso, ela
andava bastante chateada nos últimos tempos por desconfiar dos hábitos
estranhos que a filha vinha apresentando. De vez em quando a surpreendia com os
olhos vermelhos, onde um dia até havia a aconselhado a procurar um
oftalmologista para ver se aquilo não era conjuntivite. Depois, algumas vezes em
que chegava do trabalho mais cedo devido alguma eventualidade, sentia por vezes
um cheiro forte na casa, embora não soubesse exatamente de onde provinha
aquilo. A filha também havia renovado seu quadro de amizades. As moças que aos
olhos de dona Pâmela eram estudantes que almejavam cursar uma faculdade e
ascender socialmente, foram substituídas por outras garotas que usavam roupas
extravagantes e falavam gírias.
Diante desse quadro, um
dia dona Pâmela havia comentado com uma vizinha essas coisas que achava
estranho no comportamento da filha, quando a vizinha perguntou-lhe se Mariana
não estava usando drogas.
Ante aquela conjectura
dona Pâmela tivera um grande baque, para depois concordar interiormente com a
hipótese da vizinha. Desde então passara a se sentir triste por dentro, embora
não tivesse a coragem de chamar a filha para uma conversa, tampouco alertar o
marido. Dona Pâmela era uma pessoa muito preocupada com aparências, e por isso,
preferia guardar todas aquelas conjecturas para si própria.
Everton tomou coragem e
saiu do carro em direção à porta da casa da namorada. Tocou a campainha e ficou
aguardando. Depois de breve intervalo de tempo, dona Pâmela abria a porta.
Na hora em que se viram,
ambos sentiram um mal-estar que não sabiam explicar, porém se reconstituíram,
onde Everton disse:
- Dona Pâmela, a Mariana
está?
- E aonde você acha que
ela estaria num sábado pela manhã? – disse irônica. Mas vá lá ao quarto dela,
talvez ela já esteja acordada – sugeriu contrafeita.
Everton havia percebido o
estado de espírito de dona Pâmela, onde rapidamente pediu licença e se dirigiu
até o quarto da namorada. Quando lá chegou bateu na porta, recebendo
autorização para entrar.
Ao adentrar o quarto pôde
contemplar Mariana só de camisola. A roupa transparente realçava-lhe o tamanho
dos seios; ficou observando o abdômen nu daquela pele bronzeada; as grossas e
depiladas pernas encheram-lhe de desejo.
- Oi meu amor! – disse
afetuosa – acabei de acordar, só não vou te beijar porque ainda não escovei os
dentes.
- Ah, claro benzinho. Você
quer que eu espere na sala? – perguntou Everton amoroso.
- Se você quiser... Só
vou lavar o rosto e podemos tomar café.
- Tudo bem – respondeu
Everton vislumbrando o que havia por debaixo daquela camisola. Virou-se para
sair do quarto, quando Mariana o chamou. Ele então se virou e viu-a levantar a
camisola. Os dois começaram a rir, onde ele saiu fechando a porta.
Caminhou pelo corredor,
indo se sentar na sala. Depois de cerca de 15 minutos, Mariana apareceu na sala
vestida com uma mini-blusa e um apertado short jeans. Ela então o chamou para
tomar café.
- Estou voltando da
oficina mecânica, envenenei meu carro – disse distraído.
- Então ficou pronto? –
perguntou enquanto passava manteiga num pão.
- Ficou – respondeu
alegre – hoje à tarde poderemos testá-lo.
- Vai ter pega? – indagou
oferecendo-lhe um pão.
- Não obrigado, só café
mesmo – falou enquanto ela colocava até a metade café num copo - sim, vai ter um pega hoje.
- Aonde vai ser? –
inquiriu curiosa.
- Na estrada que vai para
Sobradinho – referia-se ele a um vilarejo que ficava próximo da cidade.
- A pista é boa?
- Essa estrada não é
muito movimentada – explicava ele – tem grandes retas, porém têm algumas curvas
fechadas – dizia ele lembrando-se da observação do mecânico – o trajeto pode
ser feito em 15 minutos.
- Nossa, hoje eu acordei com uma vontade de fumar - disse ela mudando de assunto.
- Mas nós fumamos dois
ontem à noite – comentou ele – você tem que se controlar um pouco.
- É que não consigo amor
– desabafava por sua vez – já acordo fissurada.
Ela ia falar mais alguma
coisa, quando a mãe entrou na cozinha. Dona Pâmela não falou nada e foi até a
pia lavar algumas louças.
Diante da sogra, Everton
se sentiu inibido e passou a responder laconicamente aos comentários que
Mariana fazia. Ele também percebeu que a mãe da namorada viera até ali só para
os espionar, fingindo lavar as louças.
Ele então inventou uma
desculpa para ir embora, sob os protestos da moça para que ficasse mais algum
tempo - pois ela estava a fim de namorar um pouco – se levantando da mesa
abruptamente. Deu um beijo na boca de Mariana, dizendo:
- Duas horas eu passo
para te pegar.
- Tá certo amor –
respondeu ela com um sorriso – vou ficar morrendo de saudade até lá.
Passou pela sogra, que
virou o rosto, onde esta pensou: “maconheiro”. Diante da grosseria da genitora
de Mariana, foi embora sem se despedir.
Depois que dona Pâmela
ouviu a porta se fechar, disse:
- Aonde vocês vão? –
perguntou com um aperto no coração.
- Vamos a um churrasco –
respondeu Mariana seca – pois já havia percebido a aversão que a mãe sentia por
Everton. Levantou-se da mesa e foi para o quarto navegar na internet.
Quando eram duas horas,
Everton buzinava na porta da casa de Mariana. Esperou um pouco, até que a moça
apareceu fechando o portão atrás de si.
Ela estava mais bela do que
nunca. Usava uma blusa amarela, que lhe destacava o volume dos seios; trajava
uma calça jeans que lhe realçava as pernas e a exuberância do quadril. Tinha
feito uma escova nos cabelos compridos, que pareciam refletir a luz do sol. Ela
adentrou o veículo sorridente, dando-lhe um beijo na boca.
- E aí? – perguntou ele
devolvendo o sorriso.
- Nossa – disse ela – não
agüentava mais tanta fissura.
- Mas deixa para você
enrolar quando o pega começar, fica mais emocionante.
- Ok - respondeu ela
tirando um pen drive da bolsa - para em seguida espetá-lo no auto-rádio.
Começou a tocar Sweet Leaf do Black
Sabath:
Alright now!
Won't you listen?
When I first met you, didn't realize,
I can't forget you or your surprise
You introduced me to my mind
And left me watching you and you kind.
Oh yeah
Ao som da música, eles
foram conversando assuntos diversos até o local aonde seria disputado o pega.
Quando lá chegaram, três
carros estavam parados no acostamento. Everton também estacionou o seu, saindo
para cumprimentar os motoristas e suas namoradas.
- Grande Everton – disse
um que parecia atrair para si a atenção de todos – será que hoje eu ganho de
você?
- Cara, acho que não,
principalmente porque acabei de envenenar meu carro.
Eles então conversaram
como seria as regras do pega, aonde ficou acordado que venceria aquele que
chegasse primeiro ao trevo que dava acesso à Sobradinho.
Voltaram então para os
interiores dos veículos, onde posicionaram os carros na pista. Enquanto Everton
acelerava o seu veículo, preparando-o para a largada, Mariana acabava de
enrolar um baseado.
Havia sido combinado que
Hiago – o jovem que Everton havia conversado – daria um sinal com um braço para
que os quatro motoristas arrancassem. Os carros aceleravam ruidosamente, a
ansiedade tomava conta de cada um deles. Foi quando Hiago tirou o braço para
fora do carro.
Os quatro carros então
largaram cantando os pneus, onde Everton conseguiu tomar a dianteira. Pelo
retrovisor ele viu que Hiago vinha logo atrás. Mariana acendeu o baseado,
enquanto Everton engatava uma quarta no veículo.
Aquele início do trajeto
era uma pista longa, onde se via ao longe uma curva. Quando ganhou velocidade,
ele apertou um botão no painel – era o nitro que ele acionava – no que o carro deu
um violento arranco para frente.
- Me dá um pega aí –
dizia Everton observando que havia deixado os outros três carros para trás há
uma distância considerável.
- Toma aqui meu amor –
disse Mariana colocando o baseado na sua boca.
Depois de algumas
tragadas, Everton percebeu que a droga fazia efeito. Mariana tirou o baseado de
sua boca, para tragá-lo avidamente. Naquele momento começava a tocar War Pigs:
Generals gathered in their masses
Just like witches at black masses
Evil minds that plot destruction
Sorcerers of death's construction
In the fields the bodies burning
As the war machine keeps turning
Death and hatred to mankind
Poisoning their brainwashed minds, oh lord yeah!
Everton voltou a tragar o
baseado que Mariana novamente colocava em sua boca, já alucinado pela droga. A
primeira coisa que lhe vinha à cabeça sob o efeito da droga era a lembrança de
dona Pâmela. Ele pensava consigo mesmo que naquela relação faltava amor – e não
sabia porque – também perdão.
Enquanto o carro
percorria aquela grande reta, Everton imprimia ainda mais velocidade ao
veículo. Ele começou a viajar no traçado da pista, aqueles traços no chão
pareciam intermináveis, e na sua cabeça, eram uma espécie de código.
A maconha produz uma
variedade de modificações sensoriais tais como: percepções visuais
características como imagens mentais vívidas, visão periférica aguçada,
alucinações, auras e mudanças dimensionais. Everton sabia, mas desprezava o
fato de que dirigir sob o efeito de uma substância psicoativa torna mais
provável a possibilidade de acidentes.
A curva se aproximava.
Num estado normal, Everton a teria feito sem dificuldades, mas sob o efeito da
maconha, parecia aos seus olhos que a curva nunca chegava. Era como se a reta
se prolongasse indefinidamente. Porém, ele tentou retomar o controle sobre si mesmo, se
acalmar e reduzindo a velocidade do veículo, fez a curva e retomou outra reta.
- Está no fim, quer mais
um pega? – disse Mariana segurando a bagana.
- Não amor, já estou muito louco e um pouco preocupado, porque parece que estou viajando demais – disse
apreensivo.
- Ora, amor – dizia
Mariana eufórica – é só você se controlar. Acelera esse carro!
Everton então afundou o
pé no acelerador e pode-se ver o velocímetro chegar a velocidade de 160 Km/h.
Nesse momento começava a
tocar Electric Funeral:
Reflexes in the sky warn you you're gonna die
Storm coming, You'd better hide
from the atomic tide
Flashes in the sky
turns houses into sties
Turns people into clay
Radiation minds decay
Everton sabia
inglês e refletiu preocupado que a letra da música falava em morte. Naquele
momento, múltiplos pensamentos assaltavam-lhe a mente: preocupava-se em olhar
pelo retrovisor e ver a que distância estavam os outros carros, embora não
guardasse a certeza a qual distância eles realmente estavam; olhava Mariana que
viajava na música que tocava e pensava que tudo seria perfeito no seu
relacionamento, senão fosse a sogra; pensava nos pais e de como ele estava
traindo a confiança deles ao praticar pegas e fumar maconha.
Mais uma curva se
aproximava. Ele olhou novamente no retrovisor e viu que o carro de Hiago estava
colado no dele. Ele sabia que tinha que diminuir a velocidade para fazer a
curva, mas sua faculdade de tomar decisões estava comprometida pelo efeito da
maconha. Hesitante, ao invés de reduzir as marchas, ele engatou uma quinta no
carro.
Num dado momento,
Everton teve uma percepção que a vida era um filme e os personagens desse filme eram
os pais, a irmã, Mariana, a sogra, a sua paixão por carros, a faculdade... A
curva veio e devido a sua alta velocidade, ele virou o volante todo para a
esquerda e pisou no freio, porém apesar de conseguir fazer a curva, entrou na
pista dos carros que vinham em sentido contrário.
De repente, ele se
assustou ao ver que um caminhão vinha ao encontro deles, Mariana deu um grito e
naqueles pouco segundos, em que o tempo parecia passar em câmera lenta, os dois
pensaram muitas coisas; olharam-se rapidamente e ela ainda colocou sua mão
esquerda na mão dele que estava no câmbio, apertando-a.
Então ouviu-se uma explosão.
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