"Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você". Sartre

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Filhos do Descaso



Filhos do Descaso

Este conto participou do 1º Desafio Scribe de contos. 

 A aurora prenunciava a sua chegada pelos primeiros raios de sol que despontavam no horizonte. A claridade que anunciava a vinda de mais uma manhã, também desvelava a magnitude da cidade e seus arranha-céus.
  Em uma das avenidas principais, os primeiros ônibus começavam a circular repletos de homens e mulheres em direção ao trabalho.
 Timidamente, aqui e ali se abriam as portas dos bares; estudantes com pastas e livros debaixo dos braços, em seus uniformes, passavam festivos em direção às escolas das proximidades; freneticamente carros se multiplicavam nas vias públicas.
 O dia na cidade se iniciava e com ele todo o frenesi da vida pós-moderna.
 Próximo dali, debaixo de uma marquise de ônibus, se encontravam alguns garotos dormindo. Tratava-se de um grupo de meninos de rua, denominação dada a garotos que costumam passar grande parte do dia nas ruas ou mesmo morar nelas.
 Estavam em número de três, dormiam todos juntos, meio amontoados, com as cabeças para dentro das blusas, parecendo que com isso quisessem improvisar uma barraca.
 Alguns populares já se aglomeravam no ponto de ônibus à espera da condução que os levaria aos seus destinos. O vozerio daqueles associado à algazarra de ônibus e carros que se principiava, despertaria um dos garotos.
 Colocando a cabeça para fora, parecendo ainda meio adormecido, Carteirinha - como era chamado pelos colegas de rua - tratou de despertar os outros dois amigos.
 - Aí! Vamos acordar porque precisamos batalhar o café da manhã! - admoestava os outros dois com puxões em suas camisas.
 - Pega leve aí, Carteirinha! - gritava Bolinha - um dos outros dois garotos, colocando a cabeça para fora da camisa suja e rasgada.
 - Tu tá zoando demais rapaz! - reclamava Chiclete - o terceiro e mais velho garoto do grupo.
 - Pô, vocês vão ficar aí de bobeira? - indagava Carteirinha - acorda aí seus vagabundos!
Despertados por carteirinha, Bolinha e Chiclete bocejavam desanimados, parecendo não querer acordar para a dura realidade do dia a dia nas ruas.
 Os três garotos então se levantaram e já no ponto de ônibus pediam alguns trocados para os ali presentes. Entre recusas, desculpas e mesmo sermões que os admoestavam à ir trabalhar, uma senhora tirou algumas notas da bolsa e entregou-as à Carteirinha.
 Puseram-se então a andar pelo centro comercial da cidade, na direção do bar do "Mané", local onde sempre que tinham algum dinheiro, iam para comer alguma coisa, já que o dono - diferentemente de outros comerciantes - não proibia que lá frequentassem.
 Quando lá chegaram, encontraram o bar lotado e puderam ver o Mané e mais dois funcionários se desdobrando para atender os clientes.
 - Cadê meu pingado Mané?! - gritava um homem com um capacete na cabeça e uma roupa que sugeria que o mesmo trabalhava na construção civil.
 - Ô Mané! - gritava outro que o uniforme sujo de graxa indicava ser mecânico - esse misto quente sai ou não sai?
 - Calma aí minha gente! - retrucava o Mané enquanto servia um café para um senhor de bigodes - eu sou um só!
 Os três garotos que pareciam se divertir com aquela cena, também se achegaram ao balcão para serem atendidos. Quem veio em direção deles foi Diego, um dos funcionários do estabelecimento, que em tom de brincadeira disse:
 - Aí trio parada dura, aqui só se serve se tiver dinheiro!
 - E quem falou que nós não temos dinheiro? - retrucava Chiclete com ares de ofendido.
 Carteirinha tirou as notas do bolso, colocando-as em cima do balcão. Depois de contá-las, Diego recolheu-as gritando:
 - Ô Madruga, solta aí três mistos e três pingados!
 Os três garotos então puseram-se a esperar o lanche, conversando entre si, como seria a estratégia daquele dia.
 - O que vocês acham de irmos para a praça da catedral pedir? - Sugeriu Carteirinha aos dois amigos.
 - Pedir ou bater carteira? - Retrucava Bolinha irônico, dando a entender a razão do apelido do colega.
 - Eu estava mesmo a fim era de encontrar a Tigrinha - intervinha na conversa Chiclete - quando nós andamos com ela sempre descolamos uns trocados maneiros.
 - Pô, é mesmo! Faz um tempo que a gente não esbarra com ela. Ouvi falar que ela andava pedindo naquele bairro de bacana aqui perto - narrava Carteirinha animado, quando Diego lhe chamou a atenção para que pegasse o pingado e o sanduíche.
 A chegada do lanche arrefeceu a conversa dos três. Avidamente, puseram-se a devorar os sanduíches, a feição de animais famintos.
 Findo o café, com os semblantes satisfeitos, se despediram de Diego e do Mané e ganharam a via pública. A manhã ensolarada dava um ar todo especial à rua, onde transeuntes apressados iam e vinham.
 Os três garotos andavam distraídos, sempre atentos para alguma coisa que os chamasse atenção numa vitrine, ou mesmo para as mulheres bonitas que passavam exibindo suas roupas decotadas.
 Estacaram na praça da catedral, onde havia um comércio de sacoleiros e também um ponto de táxi. Circulavam pela mesma, às vezes rindo de algum pedestre que lhes parecia mais engraçado ou parando para observar as linhas futuristas de determinado carro esporte.
 Ficaram algum tempo sentados num banco, observando o movimento da praça, quando um garoto franzino - trazendo um saco na mão - aproximou-se deles dizendo:
 - E aí seus malucos! Por onde vocês andam?
 Quem lhes chamava era Verniz - garoto já familiarizado há muitos anos com as ruas - e que se acabava no vício do esmalte.
 - Verniz! - Gritaram alegres. - Pô cara, a essa hora da manhã você já está com esse esmalte?! - Dizia Chiclete, rindo para o amigo.
 - Vocês querem cheirar um pouco? - Interrogava Verniz, estendendo o saco para os amigos.
 O esmalte então passou pelas mãos dos três, que em plena luz do dia, sem qualquer constrangimento, aspiraram o conteúdo do saco sofregamente.
 Depois de alguns minutos, estavam os quatro com os gestos e olhares cambaleantes e o riso solto, achando graça de tudo e de todos. Desceram do banco e esticaram-se na grama, contando anedotas e às vezes dizendo coisas desarticuladas, numa cena patética.
 Aquele quadro pareceu incomodar alguns taxistas e sacoleiros, talvez nem tanto pelo fato do consumo de esmalte, mas pela desenvoltura com que consumiam aquela espécie de tóxico ali em plena praça pública, livres de qualquer embaraço, o que parecia uma afronta àquelas pessoas.
 Verniz ria frouxamente, quando ao olhar distraído para o centro da praça, divisou dois policiais militares se aproximando com porretes nas mãos.
 - Aí moçada! Sujou! Vamos correr! - Gritava assustado para os demais.
 Puseram-se em carreira desabalada, com os policiais nos calcanhares, porém depois de algumas esquinas, lá estavam os dois policiais olhando para os lados, pois os haviam perdido.
 Há algumas quadras dali, os quatro garotos andavam arrastados; a respiração ofegante e o suor escorrendo-lhes pelo rosto, denunciava a fadiga da corrida.
 - Pô Verniz, valeu aí! - exclamava Chiclete aliviado - não estou a fim de ir para a Febem mais não!
 - É mesmo, ali a gente só apanha, tá ligado?! - Concordava Verniz com o amigo.
 Andaram mais um pouco e sentaram-se na calçada de uma casa. O cansaço ainda lhes era visível, por um breve intervalo de tempo ficaram calados observando a rua, procurando refazerem-se.
 - E agora, vamos fazer o quê? - Quebrava o mutismo do grupo Bolinha.
 - Tava a fim de encontrar a Tigrinha! - Suspirava Chiclete quebrando um pequeno ramo de árvore na mão.
 - Hummm! Apaixonou! - Debocharam os outros sarcásticos.
 - Não vou esconder que sempre fui parado na dela - retrucou Chiclete - me amarro naquela mina!
 - Vamos dar umas voltas pelo bairro, quem sabe a gente não acha ela? - Sugeriu Bolinha aos demais, que aderindo à sua ideia, se colocaram de pé.
 Puseram-se então a andar pelas ruas daquele bairro elegante da cidade. Enquanto percorriam as ruas, ficavam comentando entre si os aspectos grandiosos daquelas residências imponentes e suntuosas.
 Ficavam discutindo entre si de como deveria ser a vida de "bacana", ter comida à vontade, carrões para dar um "rolê" pela cidade e principalmente ter qualquer mulher "a mão".
 Estavam entretidos em suas fantasias, quando foram despertados por um grito agudo e estridente:
 - Chiclete! Ô meu! Espera aí!
 Era Tigrinha. A menina aparentava ter entre onze e doze anos - diga-se de passagem a faixa etária em que se encontrava o grupo, a exceção de Chiclete que completara 15 anos - correu em direção à eles, expressando alegria e contentamento no semblante.
 - Pô seus malucos! Por onde vocês andam? - Inquiria Tigrinha, segurando a mão de Chiclete.
 - Estamos por aí mesmo - respondeu Chiclete - e tu, o que tem feito?
 - Pô, descolei uma bocada maneira. Todo dia estou comendo na casa de um bacana aqui perto - respondia pegando um cigarro no bolso da calça.
 - Conta essa história direito Tigrinha - admoestava Carteirinha - comendo ou sendo c...
 As últimas palavras de Carteirinha, o rosto de Chiclete pareceu se encher de cólera.
 - Por que você não cuida da sua vida Carteirinha? - retrucava Tigrinha indignada - vá te f...
 Todos deram uma gargalhada - a exceção de Chiclete - cujo semblante transparecia toda a ira que lhe convulsionava o ser.
 - E onde esse bacana mora? Será que não rolava um rango pra gente também? - Indagou Verniz.
 - Pô, podemos ver isso aí, mas ele só chega de tarde - respondeu Tigrinha dando uma tragada no cigarro que passava a compartilhar com o grupo.
 Nisto, pareceu nascer no cérebro de Chiclete um plano para ir a forra com o estranho, que tudo levava a crer, abusava da sua amada.
 - É isso aí! - Exclamou Chiclete já livre de qualquer sinal de contrariedade - vamos descolar o almoço e aí damos um tempo até a tarde passar, pra então irmos na casa do bacana.
 Então puseram-se os cinco a andar de volta para o centro comercial da cidade.
 Depois de percorrer alguns quarteirões, retornaram à praça da catedral, onde o relógio da mesma marcava 12h00.
 Era horário de almoço e o tráfego de pedestres pela praça era intenso. Os cinco menores aproveitaram para pedir dinheiro no ponto de ônibus ali existente, visando comprar alguma coisa para comer.
 Naquele cenário, ao lado deles, também se podia notar diversos vendedores ambulantes que vendiam desde salgados e frutas à bugigangas diversas como óculos de sol e cd's piratas.
 Depois de mais de uma hora em que mendigaram, os cinco se dirigiram a um jardim próximo para saber quanto haviam arrecadado. Depuseram as notas e moedas na grama e começaram a contá-las.
 Finda a tarefa, computaram em torno de R$ 10,00, já que tinham algumas dificuldades em fazer contas. Satisfeitos com que haviam angariado, começaram a andar pela avenida, procurando algum restaurante onde pudessem comprar um prato feito.
 Depois de algumas esquinas, pararam em frente a um self-service, cujo havia na calçada uma placa com os dizeres: "Self-service do Brás, entre e como a vontade por R$ 3,00".
 Dos cinco, apenas Bolinha sabia ler alguma coisa, no que disse ao grupo:
 - Aí, a placa tá falando que a comida é três reais. O dinheiro não dá pra comprar comida para todos nós, mas vou ver com o dono se com este dinheiro aqui ele faz um pratão pra gente.
 Dito isto, Bolinha adentrou o restaurante, onde os outros o ficaram aguardando do lado de fora.
 Depois de um breve intervalo de tempo, Bolinha saiu de dentro do restaurante com algumas embalagens na mão, onde ele e o grupo se dirigiram para a sombra de uma árvore próxima.
 O dinheiro era suficiente apenas para três pratos, mas quando o dono do restaurante percebeu que Bolinha era um menino de rua, e este lhe disse que estava acompanhado por mais quatro menores, aquele se apiedou deles e serviu-lhe mais duas refeições.
 À sombra da árvore, puseram-se a almoçar. Nos semblantes, via-se- lhes estampada a satisfação semelhante de quem logra êxito na aprovação de um exame escolar; por mais um dia conseguiam se alimentar, passar pelo teste da sobrevivência na selva de pedra. Em sua inocência infantil, alegravam-se com as migalhas que nossa sociedade egoísta e indiferente à questão da infância desvalida, lhes dava em forma de alimento.
 Enquanto almoçavam, Verniz pediu a um idoso que passava pelo local, dinheiro para comprar um refrigerante. O velhinho não deu o dinheiro, mas daí alguns minutos voltava com uma garrafa de Coca-Cola de dois litros, à qual presenteou os garotos.
 Os meninos agradeceram alegres e o senhor continuou seu percurso. Tigrinha o acompanhou no intento de conseguir copos em um bar próximo. Logo depois estavam os cinco tomando Coca-Cola, sentados na grama, conversando alegres e fazendo brincadeiras entre si.
 Bolinha e Carteirinha se levantaram para ir ao banheiro público ali localizado; Verniz foi ao encontro de um homem engravatado, de maleta na mão, pedir algum dinheiro; Chiclete e Tigrinha puderam então ficar sozinhos.
 Os dois estavam sentados na grama, observando o movimento da praça. Nisto, Chiclete se virou para Tigrinha, dizendo:
 - Aí Tigrinha, tá me batendo uma tristeza no coração...
 - Que que foi Chiclete, o que aconteceu?
 - Tô um pouco chateado com essa história aí desse bacana - dizia com o semblante contrafeito - tu sabe que me amarro na sua...
 - Não quero falar nisso - retrucou Tigrinha desviando o olhar para a grama.
 - Promete pra mim que tu não vai voltar mais lá - pedia Chiclete súplice.
 - Tá bom... Não volto mais lá, te prometo!
 Os dois então sorriram alegres um para o outro, quando Verniz chegou interrompendo o colóquio.
 - O que que vocês acham da gente ir para a porta do lojão, pra pedir? Lá essas horas deve estar um movimento danado.
 - De boa! - Exclamou Chiclete - deixa só o Bolinha e o Carteirinha chegarem... 
 Chiclete parecia querer continuar falando alguma coisa, quando foi interrompido por Bolinha, que ao chegar correndo lhes disse:
 - Aí, o Carteirinha roubou a carteira de um velho ali atrás... Vamos embora!
 Os quatro menores puderam ver Carteirinha em disparada, com alguns populares correndo atrás dele. Rapidamente se levantaram e também começaram a correr. Chiclete gritou aos outros que se encontrassem todos em frente à loja indicada por Verniz.
 O grupo então se dispersou, Bolinha e Verniz correram para um lado, Carteirinha para outro; Chiclete agarrou a mão de Tigrinha e também evadiram-se para outra direção.
 Depois de aproximadamente meia hora, os cinco achavam-se reunidos na frente da porta de grande magazine da cidade.
 - Tu é muito vacilão Carteirinha! - admoestava Chiclete - qual é de ficar batendo carteira em pleno centro? Vai sujar nossa área malandro!
 - Não pude resistir Chiclete - tentava se explicar Carteirinha - o velho estava contando dinheiro ali na frente de todo mundo, aí quando ele colocou de volta na carteira, bati mesmo!
 - Carteirinha, isso acaba sujando pra todo mundo, pois tu tá andando com a gente - interveio na conversa bolinha - desse jeito tu vai ter que procurar outra turma.
 - Tá certo, não vou fazer mais isso...
 - E cadê a grana? - Interrogou Tigrinha.
 - Uê, com aqueles caras correndo atrás de mim, dispensei a carteira...
 - Com o dinheiro dentro? - Inquiriu Verniz.
 - Foi...
 - Burro! - exclamaram todos juntos levando as mãos à cabeça.
 - Tá bom... Vamos agora ver se a gente consegue alguma coisa aqui na porta - dizia Chiclete chamando a atenção do grupo - Bolinha, Carteirinha e Verniz vão ficar na esquina pedindo quem passar e eu e a Tigrinha vamos ficar pedindo aqui na porta.
 Após o que havia sido acordado, todos se posicionaram e começaram a abordar os transeuntes que passavam pela calçada e também os que entravam e saíam da loja. O relógio da catedral na praça em frente assinalava 15h00. O sol estava escaldante e o movimento de pedestres era intenso.
 Bolinha, Carteirinha e Verniz se posicionaram na esquina da movimentada avenida. Começaram a abordar pedestres e motoristas dos carros que paravam no sinaleiro.
 Enquanto Bolinha e Carteirinha abordavam quem passava pelo passeio, Verniz acercava-se dos motoristas que paravam no sinaleiro.
 A coleta de dinheiro no sinaleiro não era muito rentável, muitos motoristas sequer davam atenção às solicitações de Verniz. O contato era rápido e frio, pois quase nenhum motorista tinha tempo e disposição para conversar com ele; quem se dispunha a dar algum dinheiro geralmente procurava moedas no bolso ou no porta-luvas do carro, enquanto o garoto ficava torcendo para que desse tempo de receber o dinheiro antes do sinal abrir.
 Já no passeio, onde se posicionaram Bolinha e Carteirinha, o movimento de pessoas era grande. Os dois garotos abordavam quem fosse possível, em rogativas apressadas e quase sempre malsucedidas. Durante as abordagens, podia se notar no semblante dos transeuntes algo a indicar a irritação de quem está apressado em chegar há algum lugar ou fazer alguma coisa e se é atrapalhado por alguém ou algum motivo.
 Porém, se a maioria das pessoas se negava a dar trocados para os dois garotos, havia aqueles que paravam, escutavam atentamente as petições e depois de alguns segundos de análise, enfiavam a mão no bolso ou na bolsa para atender os pedidos.
 No semblante destes, quase sempre se podia notar um misto de pena, que alguns passos à frente parecia se transformar também numa condenação à ordem social vigente, através de expressões faciais que pareciam rápidas reflexões sobre o descaso quanto à problemática da menoridade abandonada.
 A tarde ia chegando ao fim, com certeza aqueles pré-adolescentes não eram os únicos a mendigar nas vias públicas. Em várias outras cidades do país naquele momento, outros garotos e garotas faziam a mesma coisa.
 E de quem é a culpa? Talvez seja minha e sua leitor (a) que fazemos parte da sociedade civil e viramos a cara para o futuro dessas crianças, que não ironicamente, são filhos do descaso.
 Descaso do Estado, que não dá o apoio que devia a menoridade abandonada.
 Descaso dos pais destas crianças, cujos muitos exigem que os filhos vão para as ruas pedir, e que quando estes chegam em casa sem alguns trocados, ainda apanham. Crianças que vivem em lares normalmente desestruturados, cujos pais geralmente estão desempregados e a miséria os leva ao alcoolismo e ao consumo de drogas. Crianças que vivem em extrema miséria material e também são vítimas da pobreza afetiva por parte dos pais.
 Descaso de uma sociedade onde só se valoriza o sucesso e as aparências, menosprezando pequenos seres humanos que no futuro tendem a ser usuários de drogas, ladrões de carros, assaltantes, homicidas e latrocidas.
 Carteirinha, Bolinha, Chiclete, Tigrinha e Verniz representaram neste conto o drama de milhares de crianças pelo Brasil que não tem direito à infância, a proteção de uma família, direito à educação, à saúde, coisas básicas que todo ser humano necessita para a sua formação física, mental e emocional.
 Crianças que já tem seus sonhos frustrados ainda pequenos, que aprendem nas ruas a dura realidade do mundo do "dá ou desce", filhos de um país aonde não existe cidadania na acepção do termo.
 Seres humanos que tem como o futuro, apenas a nossa indiferença.

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14 comentários:

  1. Ola gostei muito do conto, vc esta de parabens. Voce Escrevi muito bem. Mas faltou algo no seu texto, eu n sou critico literário, mas como leitor, sentir isso. Ficou meio morno, um relato meio monótono. Não prende muito o leitor. Se possivel, leia os contos do ALEX GUIMA, no site recanto das letras, é um escritor excelente. Vce vai gostar

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  2. Didático. As palavras de comiseração e culpabilidade de todos nós, estragam o pouco do conteúdo do texto. Personagens são personagens, bons ou ruins. Eles não ensinam nada, simplesmente agem. Achei, também, monótono e repetitivo as estripulias da garotada. E exagero dos apelidos. Abraços!

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    1. Prezado Cilas;

      Uma das coisas que são marca patente nos meus escritor é o estilo didático que imprimo à narrativa. Você concorda com o Aécio em relação a monotonia do texto, mas como disse à ele, não tem muita coisa na vida destes garotos de interessante. Como é um conto e tinha que ter um final, coloquei "As palavras de comiseração e culpabilidade de todos nós" como fecho da estória. Na realidade, o conto não deixa também de ser uma denúncia. Como pode o Estado e a Sociedade Civil deixar estes garotos entregues à própria sorte? Serão os futuros marginais de amanhã. E nós não fazemos nada, o individualismo tomou tanto conta da nossa sociedade, que o que fazemos quando muito é dar alguns trocados para estes sujeitos que mereciam ter também o direito à cidadania, a infância, ao aconchego de um lar.
      Muitas vezes nós não estamos convivendo, mas apenas coexistindo ao lado dos outros.
      De qualquer forma, fica o seu alerta e o do Aecio de que eu devo dar mais "ação" aos textos, algo que prenda mais a atenção do leitor.

      Um forte abraço!

      Paulo

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  3. Aecio;

    Obrigado pelas suas palavras. Num conto sempre acaba faltando algo, pois é uma narrativa delimitada. Diferente de um romance, por exemplo, aonde o autor pode explorar a vontade as potencialidades de cada personagem, descrever os cenários etc. Talvez o conto seja meio monótono, pois ele descreve um pouco a realidade dos meninos de rua. Na verdade, este conto nasceu da minha monografia de conclusão do curso de História: "O Problema dos Meninos de Rua". Durante algum tempo, fiz um trabalho de campo observando como eram os hábitos e a vida destes sujeitos "sem vida".
    Vou dar uma olhada nos contos do Alex Guima, conheço esse site Recanto das Letras. Obrigado pela crítica.

    Abraços!

    Paulo

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  4. Olá Paulo!

    Interessante seu blog! Escrevo crônicas, não com a perícia de um professor, mas me esforço.

    Abraço!

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  5. Olá Neo!

    O interessante da internet é que ela está possibilitando uma ampliação do acesso à cultura, pois as pessoas podem à partir dela partilharem mais as coisas. Eu não acho que ser professor, influa alguma coisa em escrever. Acredito que escrever é uma espécie de "dom", pois desde de pequeno as pessoas elogiavam minhas redações na escola. Talvez ser professor me ajudou a dar mais didática aos meus textos, o que de nenhuma forma desmerece outros tipos de narrativas. As vezes acho que sou objetivo demais, falta um pouco de subjetividade ao que escrevo. Coloca o link de seu blog aí para depois a gente dar uma olhada.

    Abraços!

    Paulo

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  6. Belíssimo conto!
    Gostei muito da sua página e já sou o seu mais novo seguidor.
    Voltarei aqui sempre, para ler suas novas histórias.
    Abraços.

    http://oliveirabicudo.blogspot.com/

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  7. Prezado Carlucio;

    Obrigado pelas palavras de incentivo. Também darei uma conferida no seu blog.

    Abraços!

    Paulo

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  8. Meu caro amigo escritor Paulo Henrique. Seu texto é esplêndido. É uma real cópia da realidade... Gistei muito... Receba os meus sinceros parabéns e abraços...

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  9. Prezado Antonio;

    Como escrevi num post acima, escrevi este conto "Filhos do Descaso" porque quando fiz minha monografia de conclusão do curso de História, foi sobre os meninos de rua. Gostaria até de fazer uma retificação, pois coloquei que o nome da monografia era "O Problema dos Meninos de Rua", quando na verdade este é um capítulo da mesma. Fiz o recorte do tema sobre o processo educativo que estes meninos adquirem na rua, que é a chamada "educação informal", ou "não-formal", como queiram.
    Na época recebi algumas críticas como as de que a única coisas que essas crianças aprendem é roubar, se drogar, matar. Mas percebi através de pesquisa de campo, que eles também aprendem regras de sociabilidade, fazer contas etc.
    Obrigado pelos elogios, mas como todo o texto, tem suas falhas.

    Abraços!

    Paulo

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  10. Querido Paulo, primeiramente gostaria de parabenizá-lo pela sua brilhante crônica, e posteriormente pelo blog. Sou apaixonada por literatura e apesar de minha pouca experiência no ramo resolvi criar um blog, se houver interesse passe por lá.
    Parabéns, mais uma vez!!
    Forte abraço!

    habitualmente@hotmail.com

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  11. Habitualmente,

    Obrigado pelos elogios, mas há sempre falhas em qualquer trabalho. Eu também sou um apaixonado por literatura, pois esta nos permite sonhar e extrapolar os limites do real através da imaginação. Vou visitar seu blog com certeza.

    Abraços!

    Paulo

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  12. Olá, Paulo

    Gostei muito de ler os seus textos neste belo blog!

    Acredito que também vá gostar do meu site: poetadapaulista.com.br

    Grande abraço

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  13. Poeta da Paulista;

    Obrigado pelos elogios. Vou dar uma conferida no seu site.

    Abraços!

    Paulo

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